Entrevista com Tina Curtis retirada do blog Fanzinoteca Mutação

01 - Como se tornou uma arte-educadora?

Tina Curtis - Acho que instinto. Muitos anos atrás, na minha adolescência fui líder comunitária pela pastoral da criança, e trabalhei com crianças e adolescentes.Tive vários trabalhos, mais sempre acabei me deparando com a questão social.
E então alguns anos atrás recebi um convite de uma ONG que trabalho até hoje, e me identifiquei muito com o trabalho.

02 - Quais os desafios da arte-educação neste novo século?

TC: O maior desafio é a sociedade perceber o quanto a educação esta debilitada e quanto é essencial valorizar a arte/cultura para todos, como isso nos enriquece.
Costumo dizer que conhecemos o pais e sua situação econômica e cultural pelas suas crianças e adolescentes.Como cuidam delas, afinal elas são o futuro não é?

03 - Como a arte-educação pode se relacionar com a arte-urbana?

TC: Na nova constituição sobre educação a um artigo que diz: ' O ensino tomará lugar sobre os seguintes princípios: II-Liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e disseminar pensamento, arte e conhecimento.'
Acho que todo arte-educador tem isso como sua bandeira, sua motivação. Porém na pratica falta ciência da sociedade da importância desse trabalho.
Faltam políticas educacionais para acompanharem as atualidades, a globalização, o agora.
Faltam mais investimentos e respeito a essa classe trabalhadora que visa expandir e valorizar nossas origens e diversidades culturais, e acabam fazendo um trabalho que chamo de Gasparzinho, ninguém enxerga ,mais ele está lá fazendo sua parte.
Assim como a escola formal também hoje falta estímulos, iniciativas, somos um pais rico e multiculturalista, porém não valorizamos e nem temos pertencimento e propriedade disso.
Ainda temos que desmistificar os conceitos sobre arte.
O que é arte?Para que arte?E a nossa cultura, para que serve? E quanto ela reflete em nossas vidas. Ainda estamos com passos de formiga... Muita coisa para se fazer.
Sinto necessidade das pessoas irem mais a museus, bibliotecas, centros de cultura.
A maioria das pessoas mesmo com tantas ferramentas como é a internet ainda não sabe quanta coisa boa acontece.

04) Como você se apaixonou pelos fanzines?

TC: AH! Foi amor a primeira colagem! Antes eu fazia meus fanzines e não sabia que “isto” tinha um nome e quando descobri pessoas que também faziam e comecei a conhecer mais esta arte me apaixonei!Hoje já não me vejo sem os fanzines, é meu estilo de vida, e já esta enraizado na minha vida.

05 - Além do Spell Work que outros zines editou?

TC: Os últimos antes do Spell Work, foram o Violet Arcana e o Sacred, mais já participei de muitos fanzines e publiquei outros tantos.

06 - Como é a vida editorial de um zine - Spell Work - em 7 anos?

TC: Bem agitada e itinerante. Houve alguns momentos que tive que dar um tempo por questões pessoais.
Também sou muito exigente em relação as matérias. Creio que não importa que seja um simples fanzine direcionado ao underground, mais tem que ter conteúdo, qualidade cultural, informação e acrescentar algo. Afinal como editora de um veiculo de comunicação, acabo também sendo formadora de opinião. O Spell Work também cresceu muito nos últimos anos e acabou criando vida própria, são muitos colaboradores, leitores bem ecléticos e críticos também.

07 - Como é a experiência de documentarista?

TC: Puxa, para mim em primeiro lugar uma realização. Sempre fui apaixonada por cinema. E o documentário é um registro de memórias, fatos, vidas, sensibilidade, envolvimento. Exige muita dedicação, mais é compensador. Tanto que já estou envolvida em outra produção.

08 - O que te motivou realizar o Punk AS?

TC: Muita coisa do movimento punk se mistura a minha vida.
Nasci e morei em Santo André, passei minha adolescência na zona leste de São Paulo, escrevi muitos textos para zines punks com muitos pseudônimos. Tive e tenho muitos amigos punks.Sempre me identifiquei com a filosofia do Punk. O faça você mesmo, as questões políticas e sociais, embora minhas raízes musicais sejam mais fortes no pós-punk. (Joy Division na veia)! Cresci nos comitês políticos de esquerda aqui no abc meu pai era engajado nesse movimento,ele era daqueles metalúrgicos presos e revolucionários nas greves no final dos anos 70 e inicio dos anos 80.
Eu tenho um comportamento anárquico e rebelde, diga-se de passagem com muitas causas! Quando estava fazendo o curso de documentário eu precisava apresentar um trabalho de conclusão, não tive dúvidas, vou fazer algo que não se comenta tanto:o movimento punk no abc, e como isso refletiu no abc e no Brasil, afinal algumas das bandas que tanto influenciaram e influenciam gerações são daqui, DZK, Garotos Podres, Hino Mortal entre outras...

09 - Podemos saber um pouco mais de suas produções culturais?

TC: Acho que devido aos fanzines acabo conhecendo muita gente que faz algum tipo de arte.Trabalho com pessoas que fazem arte, vivem de arte. Sou apaixonada por música, não vivo e não faço nada sem música, sempre que vou lançar uma edição nova articulamos algumas bandas e projetos para tocarem, exposições de zines, poesias, desenhos, esquetes teatrais, saraus, grafitti etc... As vezes discoteco também, estou lançando nossa segunda coletânea musical .
A primeira foi a Gênese com algumas bandas nacionais e tivemos o prazer de sermos apadrinhados pela banda finlandesa “Two Witches”. A segunda coletânea que atrasou um pouco na distribuição devido a vários fatores é a “In Vitro”, e já tivemos que adaptar em formato mp3 devido a demanda das bandas que forneceram suas faixas.
Nessa coletânea também tivemos vários estilos musicais dentro do alternativo, pós punk, Indie, punk, metal, experimental, sinthypop, ebm, etc... Marcaram presença também bandas da Suíça, Alemanha, Itália e uma americana. E tudo foi feito de uma forma bem simples, distribuído com os fanzines como antigamente. Sem fins lucrativos e sem muita produção. Feito mesmo para divulgar trabalhos bons que praticamente não tem espaço no circuito ou nas mídias de massa.
Mais o potencial é imenso. Acho que se os DJs e as pessoas que produzem eventos tocassem mais o material produzido aqui, seria mais valorizado, mais incentivado. Mas a grande maioria só se preocupa com o que esta acontecendo la na Europa...

10 - O que é o 'Dia do Zine'?

TC: Dia 29 de abril é comemorado o Dia do Fanzine.
Pessoas se reúnem para um encontro para tocar idéias, fanzines, como é por exemplo: o dia do livro, do grafitti, dos desenhistas...
Porém o dia do Fanzine ainda não é tão conhecido aqui no Brasil. Será a primeira vez que acontecerá um evento para se festejar esse dia, e tenho o maior orgulho de estar participando ao lado de pessoas que marcaram história aqui. E também estarei lançando a oitava edição do meu Spell Work, o Renato a nova edição do Aviso Final. Faremos um grande evento aqui em Santo André reunindo a nata do fanzinato.

11 - Quais as tuas expectativas zineiras para os próximos anos?

TC: Acho que esse revival dos Fanzines esta sendo ótimo.
Creio que embora hoje em dia os e-zines são uma tendência, ainda acho que os impressos tem a sua força e resistência de articulação.
E como absorve várias linguagens artísticas sempre vai estar presente de uma forma ou de outra. Seja para uma protesto, um poema, um hq, um graffiti, dicas de cinema, música ente tantas outras coisas. Creio que o zine veio para ficar - pode não ser como antes - mais já tem o seu lugar entre as outras artes. Valeu Law pelo espaço!E parabéns pela Mutação!Estamos juntos!
Afinal somos “Do it Yourself”!

1 comentários:

Provos Brasil disse...

Muito boa a entrevista!

O trabalho da Tina Curtis é ótimo, vida longa e porquê não eterna dos zines!!!

Cadê o Zine novo do KASKADURA???

Provos Brasil