Sempre fui fissurado por filmes, fanático mesmo, quando desde muito jovem não raro preferia ir ao cinema do que participar de outras atividades esportivas e/ou recreativas com os amiguinhos – mais até mesmo do que paquerar. Já adulto, cheguei a produzir alguns filmes (em vídeo), coisas horrorosas que hoje não recomendo a ninguém. Não tenho mais cópias dessas joças, se algum dia cair nas mãos de vocês coisas chamadas Road SM, ou Credo Creditum, por favor não assistam, e, principalmente, não permitam que seus filhos assistam de jeito nenhum! Joguem direto no lixo! Eu, quando respirava cinema, costumava ler os livros de Charles Bukowisk, e me espantava com a indiferença dele em relação aos filmes. Mas não é que passei a tratar o cinema como ele o fazia? Não freqüento cinema há quase uma década, e em DVD só re-assisto aos filmes que me agradaram quando jovem (basicamente, filmes norte-americanos dos anos 40 a 70 do século passado – mas também com lugar para os filmes ingleses da Hammer, dos épicos italianos, e dos chineses de Kung Fu). Ou seja, não me interesso mais pelo que vem sendo produzido pelo cinema, há uns bons 10 anos. Não sei nem o nome nem reconheceria o rosto dos atuais diretores, atores, atrizes. Se passasse por eles na rua, daria na mesma. Pra não dizer que não tenho assistido a nenhum lançamento mais recente, vejo um ou outro filme em DVD... gostei muito de Gran Torino (mas esse é diferente, afinal, Clint Eastwood é das antigas!), e detestei, abominei, odiei aquele Cavaleiro das Trevas. Até poucos dias atrás, provavelmente eu era um dos poucos que ainda não havia assistido ao mega-sucesso do cinema brasileiro, Tropa de Elite. E, de certa forma, ainda continuo sendo, pois não consegui assistir o filme até o final. O cinema brasileiro produziu muitos filmes bons, especialmente nos tempos da Atlântida e da Vera Cruz. Nos anos 70 também, antes de descambar de vez para a baixaria pornográfica. Da década passada até agora, o cinema brasileiro vem sendo responsável por produzir uma galeria de filmes mais chatos do mundo, e isso se explica pela crescente influência do comunismo entre os cineastas, que vem se tornando verdadeiros arautos do gramcismo, a ponto de milionários filhos de banqueiros produzirem filmes apologéticos a traficantes violentos e assassinos sanguinários. Por isso, e não por falta de patriotismo pois, apesar de tudo, adoro nosso querido e imenso Brasil, afastei-me particularmente do cinema brasileiro, sem qualquer interesse em assistir a qualquer tralha aqui produzida, e ainda por cima com dinheiro público! Tropa de Elite foi lançado e, a princípio, provocou-me certa curiosidade, pois tornava popular um personagem que logo foi rotulado pelos esquerdistas como sendo um personagem de caráter “fascista”: o Capitão Nascimento, interpretado pelo ator Wagner Moura, tornou-se herói do povo e vilão dos comunistas. Um diretor de cinema comunista acabou criando um herói para os “fascistas” – que é o rótulo que os esquerdo-comunistas dão a qualquer um que não siga a cartilha gramcista-marxista. Tropa de Elite estreou e conseguiu um sucesso retumbante de público. Meu enfado pelo cinema não me inspirou a assisti-lo na ocasião, limitei-me apenas a acompanhar os comentários gerais & diversos de espectadores, famosos ou não. Até que, recentemente, eis que o filme passa na televisão, e arrisco dar uma olhada. E não consegui chegar até o final. Achei o filme chato, e demagógico. Repete sim, a ideologia dominante do esquerdismo presente nos filmes produzidos no Brasil, especialmente num ponto: na satanização dos ricos. Os personagens ricos e/ou de classe-média, como retratados no filme, são odiosos ou tolinhos (interessante que não me consta que os produtores e o diretor do filme sejam oriundos de favelas, ou de classes sociais menos favorecidas economicamente), e somente os consumidores de drogas de classe-média são os grandes responsáveis pelo financiamento e da conseqüente violência do tráfico de drogas no Brasil.
Antes de continuar falando sobre o filme, faço um desvio-de-assunto para relatar uma experiência pessoal, e não faço isso por motivos unicamente egocêntricos, mas neste caso minha experiência pessoal é correlata com diversas outras, quiçá de milhares de outros que, como eu, se tornaram viciados em droga, especialmente da maconha. Experimentei maconha aos 18 anos de idade, gostei e fui gostando cada vez mais. Nos primeiros anos, é tudo euforia, e, embalado pelo rock’n’roll e pelos Quadrinhos underground, pelas Chiclete com Banana da vida, cheguei a me tornar um defensor do consumo da maconha, me achava um fodão, um transgressor, não reconhecia minha cumplicidade com o crime e ainda acreditava piamente na maior falácia propagada a respeito dessa erva: a de que a maconha fosse uma “droga leve”. Leve, o caralho! Com o passar dos anos, o vício foi se acirrando e, passada a euforia inicial, veio a dependência, o isolamento, a irritabilidade diante da falta do produto, a estagnação física e social, as doenças, enfim, acabei me tornando uma alma gêmea de Wood & Stock. E, diante de maior consciência da cumplicidade com o crime, o remorso avassalador. Mas aí a coisa já se tornara muito difícil: com o consumo cada vez mais excessivo da maconha, me tornei, assim como tantos, como milhares, quiçá milhões de outros, um adicto, um viciado para o resto da vida. E confesso que, um dos motivos essenciais para que eu me esforçasse em abandonar o consumo de maconha, foi sim o remorso pela cumplicidade com o crime. Certa feita, chapado como sempre, conversava ao telefone com um colega morador dos rincões da zona sul paulistana, e ele me relatava detalhadamente as agruras que os trabalhadores locais (a grande maioria) estavam sofrendo diante de uma guerra entre quadrilhas pelo domínio do tráfico de drogas. É muito diferente ver notícias pela TV, do que ouvir um relato impressionante, de viva voz, e de alguém conhecido, que preza do nosso carinho. Isso já aconteceu há alguns anos e, até agora, venho tentando, dia-a-dia, me manter afastado do vício de fumar maconha. Gostaria de poder gritar aos quatro ventos “nunca mais fumarei maconha na minha vida!”, mas ainda não posso... infelizmente a coisa não é tão simples assim. Em minha defesa posso dizer que, na grande maioria das vezes, quase sempre, chego ao final do dia orando ao Divino Pai Eterno e agradecendo por ter me mantido livre desse vício maldito, por mais um dia! É diária a luta dos adictos, pois o vício de fumar maconha é tão forte quanto qualquer outro, de bebida alcoólica, nicotina, cocaína, crack, qualquer coisa assim. “Droga leve”, uma pinóia! Assim como qualquer adicto, e diante de minha fraqueza, vira-e-mexe ainda sinto vontade de fumar maconha – e, sem dúvida, que ainda fraquejo! Mas, com as Graças do Bom Deus, venho vencendo a luta diária na grande maioria dos dias, mantendo-me livre desse vício maldito, que só atrapalhou minha vida.
Talvez este seja o grande acerto do filme Tropa de Elite, o de provocar remorso nos consumidores de maconha, que talvez possa incutir nos viciados aquela incômoda sensação de cumplicidade com o crime, tal qual me causou aquele telefonema daquele colega, anos atrás, e que me ajudou decisivamente na luta contra o vício (um beijo no seu coração, Mano Ed, se você um dia puder ler esta crônica!). Por outro lado, Tropa de Elite repete a ideologia esquerdista abrindo ainda mais o abismo entre pobres e ricos, considerando os viciados ricos os maiores responsáveis pela criminalidade ligada ao tráfico de drogas. E sabemos que a coisa não é bem assim. Os usuários das linhas de trem suburbano de São Paulo, Rio de Janeiro e outras grandes cidades brasileiras sabem que, nos horários matinais e vespertinos, nos inícios e finais do expediente comercial, determinados vagões são ocupados exclusivamente por usuários de maconha e crack, pessoas pobres que, da mesma forma que os consumidores ricos, ajudam a financiar o tráfico. O livro de Zuenir Ventura, Cidade Partida, relata detalhadamente um episódio comum e corriqueiro do distante bairro de Vigário Geral, sobre o “saco de Vigário Geral”, onde papelotes de cocaína eram vendidos ao ar livre, para consumidores daquela região mesmo. Todos pobres, e eles também ajudando a financiar o tráfico de drogas. Pode-se dizer que os adictos ricos são mais culpados do que os pobres, mas não se pode negar a conivência destes últimos, também. Essa ideologia social separatista, tão apregoada nos últimos oito anos pelo nosso presidente da República, em incontáveis grosserias etílicas, não traz benefício nenhum em nossa sociedade, muito ao contrário. A representação torpe e generalizada que se faz dos ricos, ou da classe-média, como ocorre no filme Tropa de Elite, como faz constantemente o nosso presidente da República, acaba inibindo e afastando os ricos de coração sincero, aqueles que teriam muito a oferecer em ajuda dos mais pobres. Não me admira que no Brasil nunca mais tenha aparecido alguém como o dr. Ary Lins de Vasconcelos (que ficou conhecido como “o banqueiro dos pobres”). Não pensem que sou um alienado que não reconhece a exploração pela usura, a avareza e a ganância de grande parte dos ricos e poderosos, que prejudicam a vida de milhões de pessoas. Mas é muito ruim generalizar, empobrece muito a discussão de assuntos sócio-políticos. O Novo Testamento, naquele famoso versículo, relembra que “é mais difícil passar um camelo pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino dos Céus”. Isso significa, também, que não são fáceis as provações dos ricos nesta terra. Sendo-lhes mais acessíveis as tentações mundanas, raros são os que conseguem ser dignos da misericórdia Divina. Algumas religiões reencarnacionistas chegam a dizer que, na vida terrena, a provação de um rico é mais dura do que a de um mendigo. Nem todo rico é um canalha, e nem todo pobre é um poço de virtudes. O discurso segregacionista do nosso atual presidente, e os daqueles pertencentes aos execráveis partidos políticos que o apoiam (notadamente pt e pc do b) só aumenta a distância entre ricos e pobres, e nos torna menos cristãos.
Além de cerrar fileiras no separatismo social, o filme Tropa de Elite poupa aqueles que talvez sejam os maiores, os grandes responsáveis pela manutenção do tráfico de drogas: as guerrilhas sul-americanas das farcs, aliadas do governo petista (mas aí como conseguir o dinheiro da Petrobrás para produzir filmes, hein?); os traficantes poderosos que, de seus escritórios refrigerados, rodeados de guarda-costas e impunidade, fornecem armas e drogas aos favelados; e aos artistas apologéticos das drogas, os idiotas úteis do tráfico. Sobre estes últimos, imagino que o primeiro nome que veio na cabeça dos leitores tenha sido o daquele infeliz Marcelo D2, com suas músicas horrendas. Mas lembremo-nos daqueles que influenciaram esse péssimo artista, tal como influenciaram a mim, bem como milhares, milhões de jovens brasileiros: os editores e criadores dos gibis udi-grúdi, Chiclete com Banana, Piratas do Tietê, Geraldão e quetais. Revistas que, nos anos 80 do século passado, com circulação por todo o território nacional, incentivaram o consumo de droga em suas páginas, com seus personagens deploráveis. Claro, não foi o único pecado desses lixos em forma de revista, que também disseminavam niilismo, intolerância, misoginia, grosseria, perversões sexuais, já comentei exaustivamente sobre isso em outros artigos. Esses caras, os criadores desses personagens horrendos, dessas rebordosas, desses piratas, passam incólumes por aí, desfilando arrogância, e ainda considerados como grandes gênios dos Quadrinhos! Ninguém se lembra de quão nefastas foram aquelas publicações, envenenando mentes e corações de jovens daquela época – eu incluído, mas felizmente escapei disso, sobrevivi, e hoje procuro percorrer os caminhos da conversão.
Espero que não me entendam mal... tenho, pelos soldados do Bope (bem como pelos policiais militares), um enorme respeito. Sei o quanto são importantes nesse atual momento em que vivemos, são nossos soldados, nossos guardiães, nossos sentinelas, infelizmente ainda armados, pois nossa atualidade exige isso. Jamais os julgaria e os condenaria por alguma ação mais excessiva que vocês possam cometer, nesse ambiente triste e violento que enfrentam diariamente. Acreditem, eu os amo e respeito, e mais ainda, lembro-me de vocês em minhas orações, para que vocês possam sempre manter o senso de justiça, por mais difícil que pareça a situação. Também defendo punições mais rígidas aos usuários de drogas, punições que realmente possam inibir o consumo. O que critico aqui nesta crônica, é a ideologia passada pelo filme Tropa de Elite, que se apregoa “apresentar um debate”, quando no mais simplifica e reduz a discussão, faz revanchismos, apenas propaga o pensamento dominante, seja o separatismo social, seja o desejo de vingança. De resto, além de demagógico, é um filme chato, pois simplesmente repete as fórmulas exaustivas do cinema estadunidense, hoje copiadas nos cinemas em todo o mundo, de forma crescente e cada vez mais explícita: violência e sadismo. Pelo que sei, vem aí Tropa de Elite 2 (não são nada bobos os produtores, hein?). Vou torcer para que o Capitão Nascimento faça uma visita a Angeli e Laerte.
Blog Jupiter 2 Editora
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